
Coríntios e Timóteo: Prostituição masculina, devassidão e sexo abusivo entre homens

1 Coríntios 6.9
9Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas,
10nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus.
1 Timóteo 1.10:
9tendo em vista que não se promulga lei para quem é justo, mas para transgressores e rebeldes, irreverentes e pecadores, ímpios e profanos, parricidas e matricidas, homicidas,
10impuros, sodomitas, raptores de homens, mentirosos, perjuros e para tudo quanto se opõe à sã doutrina.
A grande chave para se rejeitar esse texto como referência à homossexualidade é a dificuldade em saber com certeza o significado das palavras aí traduzidas como efeminados e sodomitas. Tais palavras no original grego são, respectivamente: malakoi e arsenokoitai. Há dezenas de traduções para ambas as palavras, o que prova a incerteza dos eruditos sobre o que elas realmente significam no texto paulino. Palavras e termos como devassos, travestis, catamitos, prostitutos masculinos, sodomitas, afeminados, pederastas e pedófilos, dentre vários outros, já foram utilizados para traduzir malakoi e arsenokoitai.
Malakos (plural malakoi) aparece em outros textos bíblicos e significa, literalmente, macio, suave ao toque, mole. No texto de Paulo adquiriu um significado metafórico, figurado. Os dicionários teológicos associam malakos a um homem afeminado, mas também reconhecem que o termo pode significar pessoas em geral dadas aos prazeres da carne. Tal tradução é bem mais coerente pois todos os outros pecados citados ali se referem a pessoas em geral, tanto homens quanto mulheres. Algumas traduções como A Bíblia de Jerusalém (em português), La Bible du Semeur (em francês) e a Contemporary English Version (em inglês) já apresentam essa idéia. Há estudos que relacionam malakoi com a prostituição masculina praticada na época de Paulo, principalmente em Corinto, cidade famosa por sua depravação sexual. Algumas traduções como a Todays New International Version (2001), a New International Readers Version (1996) e a New Century Version (1984) apresentam essa idéia. Embora não completamente precisas, essas traduções já representam um avanço ao dissociar os pecados dos malakos da homossexualidade moderna.
Apenas o vocábulo arsenokoitai se refere exclusivamente a homens, pois em sua composição temos arseno que significa literalmente homem. Koitai significa leito, cama, numa conotação sexual. Portanto, arsenokoitai, significa o homem que mantém relações com outro homem ou, mais precisamente, o homem que penetra outro homem. Na época de Paulo, era comum a prática da exploração sexual, principalmente na relação senhor/escravo. Em Timóteo, Paulo menciona, juntamente com arsenokoitai, os traficantes de jovens escravos, o que reforça tal interpretação. Algumas traduções, valendo-se desse fato sócio-histórico, traduziram arsenokoitai como pederastas (Bíblia Viva 1995) e pedófilos (Bíblia dos Capuchinhos 2002). Tais traduções, ainda que não completamente exatas, são coerentes com o contexto social do século I, pois revelam um caráter abusivo em tais relações. Essa era a visão judaica do comportamento sexual romano: a violência, o abuso e a prostituição. Paulo, por ser judeu, cultivava tais conceitos.
Talvez nunca saibamos o que tais palavras significam, porém, é evidente que não se referem às relações homoafetivas e monogâmicas da atualidade. O que Paulo condena em tais textos é o sexo abusivo, cometido por solteiros (fornicação) fora do casamento (adultério) e o abuso entre homens. Outro ponto a ser considerado é o seguinte: se tal texto condena a homoafetividade, por que não menciona as mulheres? Que o respondam os cristãos homófobos.
(Estudo completo no Livro Bíblia e homossexualidade: verdade e mitos)
Material gentilmente cedido pelo Pr. Alexandre Feitosa, da Comunidade Athos de Brasília, autor do livro 'Bíblia e homossexualidade: verdades e mitos'.